quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O AMOR FAZ TODA DIFERENÇA

1. Não é tão simples assim...
Erramos ao reduzir o amor ao relacionamento, cometeremos um erro se reduzirmos o amor a qualquer coisa que seja. É óbvio que estou falando do amor romântico, aquele arrebatador sentimento que une um homem e uma mulher acima de todas as suas diferenças. Os relacionamentos podem ser (e têm sido) forjados, manipulados, sustentados por razões sociais e culturais, mas o amor não. O amor é o ingrediente mágico que torna a ‘vida a dois’ sustentável e sem amor... definitivamente tudo desaba. E como os casamentos têm desabado no meio evangélico! Parece-me óbvio que o resultado de um relacionamento forjado pela igreja esteja fadado ao fracasso e me pergunto quantas pessoas ainda vão se deixar manipular por esse jogo, aonde as pessoas solteiras são simples peças de um tabuleiro, que depois de unidas uma a uma são substituídas por um casal. Quantas pessoas serão presas à solidão por conta dessa visão de relacionamento?
O amor e o romance não recebem a devida importância na concepção de namoro, noivado e casamento das igrejas. Isso pode ser facilmente percebido naquelas palestras [patéticas] com as “10 maneiras de salvar seu casamento...” ou ‘o que você precisa fazer é...’ Isso pode piorar se vier a temerosa frase ‘os homens são...’ ‘as mulheres jamais....’ Por que quando começa essa papo furado, eu saio pra tomar um ar e não enfartar de vez nessas palestras. Detesto essas fórmulas e detesto todos esses conselhos maçantes e que, absolutamente, não servem pra ninguém. Pra mim a questão se origina principalmente no fato de que a igreja ainda não consegue conceber o ser humano em sua complexidade, portanto não está apta pra lidar com um relacionamento que, por sua vez, se trata de dois seres, unindo suas complexidades, conflitos, virtudes e defeitos. Se não é possível pra eles compreender a profundidade de um ser humano, atuando em papéis de marido e esposa, nunca saberão do que se trata um casamento. E lá vem aquele lixo goela abaixo dos cristãos. Que alienante, que frustrante!
Ainda espero ouvir um discurso que leve em consideração problemas mais profundos do que “ela deixa tudo bagunçado”, “ele não me ajuda com as crianças”. É preciso conhecer os projetos de Deus para o homem e para a mulher no casamento, conhecer o que o ser humano significa em Deus. Depois disso, é preciso oferecer ajuda apropriada para lidar com a pressão da escolha do parceiro (que pode ter sido uma escolha errada, precipitada, por que não?), ajuda pra re-inventar um romance com o que sobrou, depois de tantas brigas, tantas ofensas. Ajuda pra perdoar. Ajuda pra lidar com a responsabilidade do casamento, enxergando as diferenças e dificuldades, lidando com elas, pra só assim ter argumentos para seguir adiante. Não por uma pressão ou recriminação do divórcio (e do divorciado), mas porque uma decisão madura e pensada foi tomada por adultos, cientes de todos os complicadores envolvidos nessa decisão. O casamento é bem mais do que 2 pessoas com dificuldades na adaptação de sua convivência doméstica. E me pergunto até quando ele será reduzido a apenas isso????

2. A igreja e o casamento
Por princípio, o relacionamento entre um homem e uma mulher é algo complexo. Afinal são pessoas com educação, sonhos, projetos e opiniões distintas. Homens e mulheres com suas diferenças sociais, com seus egoísmos, com suas necessidades, com suas expectativas, enfim... “tudo” pra dar errado, desde o início (risos). O que se espera é que os relacionamentos entre evangélicos sejam concebidos com mais maturidade e com propósitos mais profundos do que simplesmente curtir a companhia e o beijo de alguém. Mas não é bem assim, os moldes mundanos foram transportados para a igreja implicitamente. Quando não são reprimidos (o que também é péssimo) os jovens e/ou solteiros não recebem uma educação cristã que os oriente a lidar com a paixão, com a atração sexual e, sobretudo, que os coloque a par de todas as dificuldades envoltas num relacionamento (evidentemente pautada na concepção mais profunda possível de relacionamento, o que é defendido nesse texto).
Mas a igreja prefere gastar toda sua energia remediando erros nos casamentos do que prevenindo os mesmos. Prefere reprimir o divórcio e provocar um casamento precipitado, do que se envolver com um longo projeto de preparação, o que precisaria de mais planejamento, mais estudo e uma atuação bem mais ampla do que promover palestras com inscrições superfaturadas, conteúdo raso e envolvimento idem. Isso é patético, mas comum, infelizmente. É muito mais fácil ensinar o incomodado a se anular no casamento do que arregaçar as mangas e se envolver com as famílias, tomando para si suas dores e suas frustrações. Se faz emergencial a elaboração de um projeto de preparação e reparação da estrutura familiar que atue efetivamente na educação emocional dos fiéis antes e depois do casamento. Que previna erros e lide com os que já foram cometidos, afastando os tabús e falando abertamente, com sinceridade. Que incorpore um processo intenso de cura interior, restauração da auto-estima, libertação e estruturação do indivíduo como um todo, e um a um. Que implante valores e moral nas famílias, cuidando de ensiná-las o que é louvável diante de Deus e não somente reprimindo, para que os problemas se maquiem.
A quantidade de pessoas feridas pela falta de amor, pela precipitação de suas decisões e pela falta de sabedoria da instituição para lidar com o aconselhamento dos solteiros é muito grande pra ser ignorada.. Casamentos são precipitados todos os dias por essa dose de desespero, somado ao medo da solidão, a carência sexual e a instabilidade emocional de muitos. As conseqüências são terríveis, especialmente se houver filhos envolvidos. A situação vai se arrastando, buscando desesperadamente por ajuda nesses rituais horrendos de terapia existentes nas igrejas, baseadas no geral, reduzindo as pessoas aos seus estereótipos, como modelos de comportamentos que não representam a realidade dos indivíduos em sua multifacetada personalidade. Primeiro por que não há nenhuma demonstração de que o casamento foi levado a sério, como ele realmente é, com tudo o que ele provoca, com tudo o que o catalisa, com todas as angústias e projeções que o espera, levando em consideração a existência do ciúme, da insegurança, do receio da solidão. Segundo por que os palestrantes ainda estão se guiando por uma concepção ora excessivamente biológica, ora restritamente espiritual, do homem e da mulher. E por último por que não dispõe de uma política de aconselhamento que prepare os indivíduos para esperar (em Deus) a hora certa, a pessoa certa, cuidando de prepará-los para a dor e a beleza de construir uma família e uma vida a dois. E a pergunta continua martelando: “até quando”?

3. O incrível papel do AMOR nisso tudo...
Tudo se trata de amor. Da forma como o amor é concebido e demonstrado. O amor não é quantitativo, não pode haver uma fórmula para explicar como senti-lo, como demonstrá-lo, garantindo resultados. Não haverá amor espontâneo e bem sucedido enquanto “forçarem” a barra para que o tal irmão se case com a tal irmã. Além do mais, na verdade acho que o amor não é tratado com respeito na igreja. Pra ser sincera, acho que só foi tratado com respeito nos romances! Só neles o amor recebe toda complexidade, dor e todo o drama que lhe são intrínsecos. Parece contraditório, mas só na ficção existe um fiel retrato da realidade. Porque existem mil histórias de amor, com personagens de todos os tipos, da mesma forma que existem pessoas, com personalidades e combinações variadas na vida real. Existem romances que dão certo e outros que não! Não sei por que e duvido bastante se isso poderia ser evitado. Minha teoria parte de que as escolhas não são racionais e por isso não é possível carimbar "pra sempre" em todos eles. (E até vejo os mais extremistas surtando com a essa frase). É evidente que não dá pra sair namorando e casando até achar a pessoa ‘certa’. Bem como não é conveniente pensar no divórcio ‘como uma opção para o caso de não dar certo’ isso além de desleal, é cruel, pois todos erram, mais cedo ou mais tarde. E o que é pior, muitas e muitas vezes. Também não dá pra listar características numa agenda e esperar o príncipe encantado chegar preenchendo os requisitos. Precisamos de ajuda pra chegar até o amor, eis o papel da igreja.
Mas o amor precisa ser sentido, como prerrogativa, para relacionar-se. É preciso se apaixonar inteiramente, e não me venham com aquele discurso limitado de que a paixão é uma coisa pejorativa, por que não conheço quem viveu sem se apaixonar. É fato que por vezes nos apaixonamos por razões pouco fundamentadas e com a mesma velocidade e intensidade que a paixão entra em nossa vida, ela vai embora, arrasando tudo, como um furacão. O inimigo tem usado essa estratégia para golpear, às vezes mortalmente, muitas pessoas que se apaixonam sem adquirir antes, sua estabilidade emocional, sua firmeza de caráter em Cristo. Quando estamos firmes em Deus podemos nos apaixonar sem danos desastrosos, sabendo reconhecer no outro as qualidades que procuramos e totalmente abertos a lidar com as imperfeições que os acompanham. Esse amor brota puro, intenso e vem pra nos completar como pessoas. Só sob essa base é possível construir um relacionamento sem o ideal de perfeição, sem fantasias, sem medos. Só amando podemos sentir a beleza do outro, nos mantendo atraídos por seu corpo, pele e cheiro, desejando ardentemente pelo toque, ainda com o passar do tempo. O amor faz tudo ser completo, pois desaparece com padrões e moldes impostos arbitrariamente, construindo outros, na interação entre os cônjuges e sendo administrados sábiamente pelo Espírito santo.
E como manifestação de amor, a igreja deve se comprometer com seus fiéis, fazendo o possível para que todos eles consigam amar a si mesmos, como indivíduos completos, para só então aventurar-se num relacionamento. A igreja precisa amar pra ensinar a amar, ela precisa se comprometer pra ensinar e se comprometer. Ela precisa ser um abrigo em tempos de dificuldade para que os relacionamentos se espelhem nela. Só assim as famílias vão encontrar o respeito, a honra e os valores que perderam. Só assim os casamentos vão superar os problemas que inegavelmente têm. A igreja precisa apresentar um Deus que se preocupa com os problemas do coração e que nos demonstrou que somos feitos para o amor, até a última célula. Tudo o que desejo é que as pessoas encontrem o amor. O amor que começa em Jesus perpassa por si mesmo e se completa no amor ao cônjuge, bem como aos filhos, ao próximo. Havendo amor, todos os obstáculos parecem pequenos e todos os problemas são superáveis, com ele dá pra juntar os pedaços do nosso coração solitário. Pra mim é isso, tudo se reduz a uma questão de amor.

2 comentários:

  1. É bom ver alguém com coragem e neurônios suficientes para exprimir uma opinião verdadeira sobre o casamento cristão, ou ao menos o casamento dentro das igrejas.

    É insuportável pensar que somos sujeitos de modelos já concebidos (não sei bem por quem ou em que época) de casamentos "bem sucedidos"...
    A realidade é diferente em cada época, em casa casa e pra cada um... não há de se conseguir escrever uma receita de felicidade em uma apostila de cento e poucas páginas...

    Não se trata de adicionar anulação, extermínio de personalidade, de idéias ao amor para que tudo dê certo...
    Se trata de entender... de vencer cada dia aquela dificuldade que é apresentada...

    Excelente texto Sú...
    Mais uma vez vc se superou...

    Vc já sabe, mas não custa repetir quantas vezes for necessário... SOU SUA FÃ!!!

    Amo vc!

    Cibelle

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  2. Cibelle,

    Manter um relacionamento não é nada fácil, não é mesmo? São lutas, obstáculos e provações cotidianas. O casamento quando vai mal, coloca uma família em risco, a vida emocional de todos os envolvidos, esposa e marido, crianças, sogros e sogras. Mas ainda com toda essa importância latente, a Igreja não se posiciona com a profundidade necessária. Está meramente preocupada em 'limpar a bagunça do leite derramado', mesmo que seja óbvio que ele volte a derramar, diante de seus olhos. Isso está um caos. Em nenhum momento se considera que o problema do casamento é o problema do indivíduo que ele carrega em si para o casamento. E isso é muito mais importante do que o problema com a toalha molhada, ou com a ajuda na louça da casa. Por Deus!
    Fora a questão dos manuais! Quão limitados são... “Cada qual sabe amar a seu modo!” como diria Machado de Assis. Lembra que recitei isso em meus votos? Aliás, lembra da frase do convite: "A maior felicidade é ser amado pelo que se é. Ou melhor, é ser amado apesar de ser assim.” (Victor Hugo) Isso reflete exatamente o que penso sobre relacionamentos. Amo o Roberto apesar de ele ser como ele é e creio que tudo o que ele precise fazer, pra que sejamos felizes, é me amar apesar de ser como eu sou. O amor constrange o errado a se corrigir, sem humilhações nem acusações. O amor adapta um ao outro e é preciso cuidar do amor. É fundamental se comprometer com o amor e mantê-lo a salvo.
    Isso me leva a crer inclusive, que o que falta na Igreja é amor pelas famílias. Apenas quando a Igreja AMAR cada membro e se COMPROMETER em ajudar, COMPREENDENDO suas mazelas, dores e dificuldades haverá mudança no cenário...
    As palavras de ordem, definitivamente são:
    AMOR, COMPROMETIMENTO E COMPREENSÃO

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Por uma simples questão de ordem peço que haja educação e bom senso em suas palavras. Esse é um blog para Cristãos, onde discutiremos os conflitos de nosso cotidiano, se você é ateu não venha me ofender com suas opiniões particulares, esses posts não são direcionados à você. Diante disso, vá ler um pouco, estudar e sedimentar sua opinião de que Deus não existe por que em breve vc terá que dizer isso à Ele, então é bom que vc esteja seguro do que pensa(risos).