sábado, 3 de abril de 2010

COMO VASO NAS MÃOS DO OLEIRO

1. Natureza irremediavelmente de barro
Nesses últimos anos eu fiz uma viagem, pra dentro de mim mesmo. Na ocasião conheci coisas dentro de mim que ainda não sei como lidar. Estive assustada, estive desesperada, estive em frangalhos, estive me aceitando por um tempo. Me negando por outro. Eu me conheci e não gostei do que vi. Eu fui crítica de mim mesma, e então desabei diante da minha natureza corruptível e danosa. Estou falando de auto-crítica, da mais fria e severa possível. O fato é que fui colocada diante da Luz, só então vi as rachaduras da minha personalidade.
Eu vi que sou intolerante com mil e uma coisas. Que minha carne é... a palavra certa é: de dura cerviz. Eu confesso que tenho muita dificuldade em me submeter. Eu assumo que me achei rebelde, dura e prepotente. Tinha a mesma facilidade para fazer inimigos do que amigos. Eu dizia sempre na cara, com uma sinceridade ácida, que acabava com minha vida social. Não adiantava chorar e me arrepender depois, a questão é que eu era assim mesmo, e pronto. Eu encontrei em mim mais podridão e pecado do que imaginava ter. Nessa viagem interior eu me vi sombria, orgulhosa, insubordinável, intolerante, crítica, terrivelmente crítica. Meu Deus! Como vou lidar com o que vi? Como vou lidar com o que estou assumindo? Como vou me arrepender de ser assim? Se todos esses defeitos estão atrelados a minha personalidade? Como vou ser diferente do que sempre fui? É possível ser diferente? Quando olhei pra dentro de mim descobri que fui feita de barro! E descobri que sozinha nunca conseguiria mudar, por mais que assumisse que precisava.
2. É possível ser diferente?
O mais importante é que durante toda essa viagem eu fui guiada por uma Luz muito forte que iluminava todas as arestas, e fui entendendo por que precisava me livrar de todo este lixo que eu guardava com a etiqueta "faz parte do que eu sou". Mas nada na minha vida foi tão difícil, longo, doloroso e cheio de conflitos como aceitar que precisava mudar, e mais, que precisava de ajuda pra isso! Eu me questionava o tempo todo "como vou ser diferente" , "será que eu quero mesmo ser diferente" ? Eu vi que era muito comum encontrar pessoas que mudaram alguns hábitos, algumas roupas e continuaram sendo exatamente como eram, mesmo diante de Deus. Essas pessoas deixaram alguns vícios pra trás e acrescentaram alguns retetés no linguajar, mas por dentro mantinham a mesma natureza cheia de rachaduras! Nem sempre compartilhavam os mesmos defeitos que eu, mas que continuavam vazias, superficiais, banais, apegadas a coisas materiais, mesmo depois de tantos e tantos anos na Igreja. Pessoas que se sentem bem em humilhar as outras. Pessoas que gostam de aparecer e que buscam o reconhecimento das outras... É... a igreja está repleto delas, infelizmente. Pessoas que não mudaram sua essência, apenas sua aparência. Eu estava decidida a não ser assim, de forma alguma!
Por que o Evangelho que decidi seguir não podia co-existir com esse comportamento, por que eu sabia que não seria aprovada por Deus. Nossa carne é, sem dúvida, nosso principal inimigo. Essa vontade latente de permanecer no erro está tão profundamente arraigada em nós que fica difícil separar o que somos nós, e o que é a nossa natureza corruptível. Foi aí que eu descobri que Ele precisava me quebrar! Me moldar de novo, me levar ao fogo. Vocês nem imaginam o quanto essa idéia me assustava.
3. Destruir para Reconstruir
No meio de todo esse conflito eu descobri em mim, uma imensa vontade de estar com Deus, para minha alegria e para que o plano de Deus fosse completo em relação a minha 'mudança'. Eu descobri que eu conseguia me entregar pra Deus, que eu O amava e que queria construir uma relação mais próxima com Ele. E então veio a surpresa: era só isso que eu precisava fazer: Me entregar, sem reservas! fácil não era, como nada é, em relação a minha pessoa, mas eu sabia o que precisava ser feito e busquei ajuda dEle para conseguir.
Então eu procurei um lugar neutro, isolado e simples e fui jogando tudo fora! Fui me entregando e Ele foi moldando, como um vaso em Suas mãos... Fui me aproximando e ele foi me martelando, me lixando, me aparando... E doía, e como dói ainda... Eu chorando e ele moldando, mexendo e eu dizendo pára, sentindo minha estrutura balançar, coisas caindo, caixas fétidas, cheias de poeira e ratos.. Sujeira saindo e água entrando, escova esfregando e carne doendo! Eu logo me apressei em perguntar se estava perto de acabar esse processo, Ele respondeu: "Por enquanto não Susana. Meu trabalho em você ainda não está completo". É nesse ponto que estamos atualmente: Eu aqui sofrendo em ver tudo o que sabia sobre mim se desmanchar na minha frente. Tentando manter arrumado os departamentos que Ele já organizou, exercitando o perdão que tive que aprender a pedir. Exercitando o 'julgar a si mesmo', o 'amar seus inimigos, não só os seus amigos'. Continuo com dificuldades para voltar atrás, sofrendo cada vez que tenho que me submeter. Padecendo em cada etapa da construção dessa 'nova natureza'. Mas confio, com todas as minhas forças, que é preciso essa dor. Não questiono mais os Seus métodos, também não estou interessada em desistir. Há algum tempo Ele me tirou da zona de conforto e me levou para a olaria. Me tirou do armário, colocou óleo em mim e viu que ainda havia vazamentos... Como foi difícil... Eu achava que já estava preparada... Me senti incompreendida, rejeitada, mas Ele estava apenas fazendo seu trabalho. E como foi difícil ser reprovada!!!
E assim tem sido minha vida, desde que voltei da minha viagem interior decidida a procurar um especialista em rachaduras de vasos de barro - O oleiro Jesus. Eu tenho lutado diariamente para não recuar e Ele de forma enérgica, hábil e precisa, me molda com seu amor. Preciso confessar, era exatamente disso que eu precisava pra ser uma pessoa melhor!!