sábado, 31 de dezembro de 2011

LIÇÕES EM TEMPOS DE CHUVA

1. Tempo de Ventos Fortes e Nuvens Cobrindo o Céu
2011 foi um longo ano, um ano com muitas dificuldades não só em minha vida espiritual e ministério mas em minha vida particular, emocional e profissional. Um ano com conquistas é claro, mas especialmente um ano de lutas, inclusive algumas que perdi. Comecei o ano assumindo um cargo à frente da liderança de Adolescentes, esse desafio marcante sem dúvida me proporcionou os melhores momentos do ano. Vi o Senhor abrir caminho para um ministério inovador que marcou a vida de muitas pessoas além da minha própria. Vi Ele preparar caminho, apoio, auxílio e parceiros que tornaram tudo possível, agradável e divertido. Louvo ao Senhor pela companhia de Leo, Calmom, Vinícius, Anderson e muitos outros que me fizeram resistir, numa época em que 'largar tudo' era só o que passava pela minha cabeça. 
Os ventos já estavam soprando forte, uivando e batendo as janelas da minha alma, me assustando. Sim, eu pensava o tempo todo em fugir! Eu estava apavorada com tudo o que estava sentindo, solitária eu escondia minha aflição, acoada e envergonhada por não estar conseguindo vencer minha carne, que fraquejava covardemente.
Os adolescentes contribuíam com tudo o que eu pedia e embarcavam nas sugestões cada vez mais desafiadoras, eles estavam felizes e entretidos, contudo eu dizia nos meus lapsos de franqueza, que eu só tinha meu amor pra oferecer. Falhei em todo o resto mas sei que os amei de todo o coração em cada segundo que estive com eles. Amei suas vidas, suas necessidades, seus sonhos e aflições. Amei os desafios que eram submetidos e com amor fui com eles até o limite da minha coragem, que nem era tão grande assim. Mas por trás da euforia de tantos eventos, divertidas aulas, evangelismos, animados cultos de louvor e outras tantas programações havia uma líder aflita, perseguida, sobrecarregada. Eu não sei ao certo como começou isso mas eu realmente comecei a acreditar na voz que me dizia que eu não ia conseguir chegar até o fim. Ainda tive que lidar com mentiras, levantes e perseguição de uma certa líder que resolveu proibir seus alunos de frequentar nosso ciclo de amizades, como se eu estivesse pregando algum tipo de heresia. De tanto prendê-los e manipulá-los acabou perdendo muitos deles para o mundo. Além de ser afetada com a disputa extremamente desnecessária que ela promoveu, me entristeceu vê-los se desviarem do caminho. Potenciais músicos e líderes com carisma extraordinário, agora enfurecidos e marcados por uma péssima impressão da igreja, entregues ao mundo, longe do aprisco. Mas estes foram os erros dela. Me atingiram certamente, mas estou refletindo sobre os meus erros e meus desafios, que estavam apenas começando a se agravar nessa época. Aparentemente tudo ia bem, as aulas no curso bíblico produziam uma fome de conhecimento cada vez maior, os ensaios da Banda, fluiam, o repertório era cada vez mais espiritual e comprometido, os Evangelismos tinham mais adeptos a cada mês. Os adolescentes participavam espontaneamente da liturgia do culto, levando convidados, se comprometendo com missões e eu?? EU? Eu estava ruindo... 

2. Tempo de Chuva Intensa, com Raios e Trovões
Olhava no espelho e dizia a mim mesma: Impostora! Eu estava infeliz com meu casamento, em casa longas e cansativas discussões depois do culto que 'roubavam' toda felicidade que eu sentira, horas antes. Além do mais eu detestava trabalhar onde estava trabalhando, chegava cansada e deprimida todos os dias em casa. Não tinha dinheiro pra nada, só ia da casa pra Igreja e em casa era aquela maravilha. Eu ficava feliz em ver as crianças na Igreja mas em casa éramos só ele, eu e uma solidão criando um abismo entre nós. Não havia o sorriso lindo de um filho me esperando em casa, apenas o desgaste de 8 anos e meio de relacionamento com uma pessoa fria, sóbria, que criticava minha posição na Igreja e cada atitude minha. Eu tinha me tornado uma pessoa absolutamente cansada, sem paciência pra nada e de saco cheio das cobranças dele. E essa era a pressão do fracasso que eu suportava sozinha, longe do sucesso do ministério com os adolescentes. Ninguém na minha igreja ou família sabia de nada. Nos cultos eu chorava em silêncio, cerrava forte os olhos e pedia socorro sem muita esperança que Deus pudesse agir sobre a vontade do meu marido. As nuvens cobriam o céu da minha vida e comecei a duvidar que algo pudesse mudar naquela situação. Sem saber usar a força que Deus podia me oferecer, fraquejei e entreguei os pontos, no fim do primeiro semestre. Entreguei o cargo e saí de casa. Os últimos raios de sol se foram e começou a chover em mim.
Eu estava mesmo tão cansada, tão desanimada, tão descrente que parecia que seria mesmo um alívio ficar longe dos holofotes. Não suportava minha auto-crítica interior que apontava cada uma das minhas falhas e que não enxergava esperança num raio de quilômetros à vista. A pior parte é que eu fazia parte da liderança de uma equipe de oração e campanha em favor das famílias, dentro da imensa família que faço parte e a cada lar revelado eu pensava "o que eu entendo de sucesso na família?" "a minha mesmo é exemplo de fracasso na comunicação, amor e harmonia!" que droga estou fazendo aqui??? Aquele era o tipo de hipocrisia que eu não conseguia suportar. Lembrando que começou a chover dentro de mim no exato momento em que perdi a fé na minha família. E quanta chuva enfrenta aqueles que não sabem esperar a resposta de Deus!
Sim, Eu desisti. Não faço apologia a favor, nem sou crítica ferrenha contra. 
Eu desisti. Corri e me escondi a La Elias, fugindo de Jezebel pra dentro da caverna.
Fiz tudo errado, me deixei dominar pela exaustão, pela falta de perspectiva, pela falta de esperança.
De um dia pro outro joguei tudo fora, nunca mais voltei na igreja e nunca mais voltei pra casa. Minha vontade mesmo era tomar um ônibus pra qualquer lugar desconhecido e tentar recomeçar, mas eu era covarde até pra isso. Acho que orei por no máximo 30 segundos, durante todos esses meses. Minha oração era: "Deus, tenha misericórdia de mim, me ajude a me levantar." Eu sabia quantas críticas viriam, quantos telefonemas eu iria (ou não) receber. Inclusive, sabia que tomando essa decisão muitas pessoas iam simplesmente me abandonar, me banir. Em muitos ciclos de convivência não há lugar para fracassados! Não há lugar para os que desistem, para os que caem. Eu lamento por isso. 
Experimentei o estender de mãos inesperadas e igualmente me surpreendi com indiferença e descaso de pessoas que nunca imaginei.
[...]
Então decidi escrever pra dizer que existem tempos de chuva que parecem não acabar. Chuva que nos pega de surpresa e sem abrigo. Chuva com ventos e trovões. Chuva que escurece o céu e tira nossa esperança. Chuva que nos deixa assolados...

3. Tempo de Cessar a Chuva
Ainda que esteja cá escrevendo sob goteiras do meu teto de vidro [em ruínas], quero dizer que acredito em tardes de sol no porvir. Acredito que tudo o que aconteceu em minha vida não aconteceu em vão. Que Deus Regente e Poderoso sabia quão frágil era minha estrutura. Sabedor de todas as minhas fraquezas, conhecedor de todas as minhas carências. Ele sabe e por muitas vezes eu só podia dizer isso à Ele: "Senhor, Tu sabes!" . Descanso sobre o fato de que não tenho que impressioná-lo, nem inventar desculpas, nem elaborar explicações "Ele sabe!" Ele assistiu tudo e sabe no que falhei e por que falhei. Ele não será implacável e unilateral pra me punir, Ele me ama. Sua intensão como um Pai amoroso é que eu aprenda a lidar com minhas fraquezas. Que eu cresça, supere, recomece. 
Então achei melhor escrever sobre o que aconteceu do que ficar sentado na lama me "lamentando". A chuva vai passar, a lama vai secar, a grama vai brotar. Por que Ele faz novas todas as coisas. É de sua vontade que os caídos se levantem, que os fracos se fortaleçam, que os desanimados encontre coragem e estímulo. Sua Palavra está repleta desses conceitos. Talvez sua igreja, família e amigos não tolerem seu fracasso e queda, mas com Deus não funciona assim. O mundo que Deus criou funciona sob a lei da Renovação, digamos assim. Ele renova sua misericórdia, renova nossas forças, esquece os nossos erros, nos dá outra oportunidade. Assim funciona com Deus, nós é que somos miseráveis demais pra nos perdoar e aceitar nosso recomeço. Eu não vou fazer parte disso. Não mais. 
Fracassei, desisti, entreguei os pontos, errei feio, pisei na bola, sim. Eu fiz tudo isso, e não vejo prognóstico otimista no sentido de não acontecer de novo. Sou de carne e osso, fazendo o mal que não quero fazer. Estou sempre metida no meio de uma ou outra tempestade. E sabe o que tudo isso já me ensinou?
Que não há chuvas e trevas que durem pra sempre. Uma hora, isso passa. Minha vida, família, casamento, ministério, tudo isso está afetado pelas lições que tenho aprendido nos dias de chuva, lições de amor, graça e misericórdia que me inspiram a enfrentar o ano vindouro. Estou certa de que Deus tem planejado passeios  em dias de sol pra nós dois. Mal posso esperar para aproveitar tudo isso. Chuvas? Lá fora, não dentro de mim!