quinta-feira, 11 de novembro de 2010

TOMA SENHOR, EU NÃO PRECISO MAIS DISSO

1. Apegados ao fardo (?)
Domingo passado eu re-assisti o filme "O Peregrino" (baseado na Obra clássica de John Bunyan, publicado na Inglaterra em 1678) com meus alunos da classe dos adolescentes. Eu confesso que nas vezes anteriores em que assisti o filme/li o livro, não percebi a riqueza da fala do Cristão, ao responder como adquiriu aquele fardo imenso, ele responde: "Eu adquiri lendo este livro". Fiquei pensando por horas, naquele imenso fardo. Cheguei à conclusão que muitos cristãos estão carregando seu fardo por mais tempo do que o necessário e evidentemente eu fui um desses.
Primeiro carreguei o peso do pecado, que se tornou cada vez maior na medida em que despertava em mim o conhecimento da Palavra de Deus. Depois, como uma boa cristã da Assembléia de Deus, que cresceu nos anos 90, em Goiás, descobri que carregava também o peso do sentimento de culpa. Esse era o pior, quase patológico. Me sentia culpada de cada um dos meus hormônios em ebulição! Também me sentia culpada por rejeitar certas normas igrejeiras e me sentia rebelde por não concordar nem de longe com as regras de uso e costume que me eram impostas. Evidentemente que não podia me apresentar diante de Deus com todos aqueles erros e com toda aquela carga de pecado. Em vez de dar passos em direção àquele que podia me perdoar, eu recuava, cada dia mais um pouco. O resultado disso foi uma longa caminhada, distante de Deus e com peso demais nas costas. Um sofrimento extremamente desnecessário.
Hoje considero que minha relação com Deus foi totalmente refeita e por mérito exclusivamente dEle, com sua eterna e maravilhosa mania de deixar as 99 e ir em busca de uma só ovelha. Aprendi a pedir perdão e também a me perdoar. Aprendi que existe um efeito maravilhoso chamado “efeito do mar do esquecimento” provocado pelo perdão pós-burradas consecutivas, como era sempre o meu caso. Esse estado de espírito é marcante e nos faz enxergar a Graça de Deus a olho nu, bem ali, na nossa vida. O efeito renovador de ser perdoado é a experiência mais marcante da minha vida repleta de erros. Eu aprendi a rejeitar o fardo do pecado, a entender que ele é prejudicial e que o sentimento de culpa não redime ninguém. Só então consegui encontrar descanso para minha alma.

2. Ao pé da Cruz.
A cena emocionante do Cristão sendo liberto do fardo diante da cruz foi decisiva pra mim. Eu entendi, finalmente, o significado de “lançar sobre Ele nossas ansiedades”. E louvo a Deus porque entendi. Antes tarde do que nunca. Sei que meu coração não vai deixar de se emocionar, de se comover e de se entristecer na presença de Deus, em busca do perdão dos meus pecados. Toda a tristeza que produz arrependimento genuíno está aqui, vigilante, combatendo a iniqüidade. Mas não é mais o estado desesperançoso que vivia antes. Se hoje não me sinto merecedora, as razões não são mais as mesmas de antes. Continuo me sentindo incapaz, pequena, limitada.
É preciso estar vigilante para não cair no engano e na acusação de satanás. De fato não somos merecedores, mas nunca houve merecedores. Todos foram falhos e precisaram do perdão de Deus. Homens e mulheres que estavam frente à obra de Deus falharam, caíram, se sentiram fracos. Isso é normal. E não deve nos impedir de continuar. Precisamos acreditar que Ele já nos perdoou, nos justificou e que não devemos nos acovardar carregando um peso que já foi levado na cruz.
Ás vezes, enquanto estou preparando a palavra pros pequenos, eu penso: “mas nem eu sei como fazer isso, como vou ensiná-los?”. Daí o Espírito Santo me mostra que sou uma aluna, junto com eles, de algo que Ele tem a nos ensinar. Não estou pronta. Amém por isso. Sou uma obra inacabada... Coloque aí “ESTOU EM OBRAS – DEUS ESTÁ TRABALHANDO” Não tenho pretensão de esperar o estado alfa de perfeição para fazer o que Deus me pede. É Ele que me aperfeiçoa. É Ele que me pede que faça. Eu não pretendo parar de errar por coerção, ou por medo. Pretendo aprender com o processo, é bem diferente. Então deixo a dica para todos os meus amigos que me procuraram recentemente para dizer que não se sentiam prontos: Deixe seus medos ao pé da cruz, deixe seus receios, seu orgulho, sua covardia. Lance sobre Ele sua ansiedade. Olhe bem pra cruz e veja que você não pode carregar o fardo do pecado, ele é pesado demais. Enquanto estamos olhando pra cruz somos libertos de tudo, pois recebemos o amor que erradia de lá. Eu também não estou pronta e não encontrei ninguém que se sentisse, nem mesmo na Bíblia. Precisamos absorver o significado real da exclamação: “todavia, seja feita a Sua vontade, não a minha”.

3. Pronto pra seguir adiante (?)
Mas a cruz é só o começo da peregrinação. Deixamos o fardo insuportável do pecado e tomamos o jugo suave de Jesus. Tomamos nossa cruz para segui-lo. Moleza mesmo vai ser só na eternidade, entre louvores e gozo sem igual. Aqui meus irmãos, é trabalho duro. Contudo, enquanto a convicção do amor, do perdão, da redenção de Jesus (pacote completo da Graça de Deus) não for nosso único bem não dá pra seguir viagem. Como enfrentar a fúria do inimigo com o peso do fardo? Impossível. Então, em nome de todo o futuro brilhante que teremos na obra de Deus, temos que deixar esse fardo. Davi sabia disso no salmo 51. Sabia que precisava reconhecer o pecado, pedir o perdão e implorar pelo Espírito Santo. Davi, no dia seguinte a perda do bebê, se levantou e seguiu adiante. Eu sei o quanto isso foi difícil pra mim, sou bem mais ‘dramática’ que Davi. Cultivei minhas feridas, cultivei meus erros, medos, falhas, dei importância demais para levantes, opiniões contrárias. Chega! É obvio que cultivar tais coisas, só pode gerar ainda mais dor. Abri mão de tudo isso por um bem muito maior. Decidi me ajoelhar diante da cruz, segurar nela e me levantar.
Fico imaginando os inúmeros receios que permearam a mente dos nossos heróis. Pedro pensando: Logo eu, que o neguei? Paulo pensando: Logo eu que persegui? E tantos outros que eram os caçulas, os trapaceiros, os medrosos. Não sei de onde vem essa preferência de Deus pelas coisas vis deste mundo. Por que Ele escolhe as pequenas pra confundir as grandes, as loucas pra confundir as sábias. Mas louvo a Ele por que me enquadro em todas essas características, ou seja, nasci para ser usada por Deus! Aonde abundou em mim o pecado vai superabundar a Graça, por que ao olhar pra mim, vai ser claro que tudo só foi possível pelo poder de Deus. Eu sei que o risco de fracassar está sempre presente, eu sou humana. Deus sabe disso. Mas eu estou depositando minha fé Naquele que tem experiência em transformar vasos de barro em vasos de honra, não em mim. A cruz é minha última parada, tenho um longo caminho pela frente...